Eu amo o Festival do Rio. E não consigo falar dele sem lembrar da minha trajetória como apaixonado por cinema. São muitas emoções envolvidas.
Desde que me entendo por cinéfilo, em todos outubros da vida, tudo se transforma. Entro num estado de espírito diferente, meio mágico, meio enfeitiçado. Me distancio dos problemas do dia a dia. Ganho tempo, ao invés de perdê-lo. A cidade do Rio, minha cidade desde a infância, se torna irreconhecível. A sensação é a de que estou de férias na cidade que escolhi para viajar. Mesmo que esteja trabalhando, mesmo que os problemas continuem existindo, mesmo que esteja na cidade em que habito - o Festival do Rio é um encantamento, que age sobre mim transformando meu interior e exterior. E como faço aniversário em Outubro, muitas vezes durante o Festival – como foi o caso deste ano –, me sinto como que presenteado pelos Deuses.
Aqui vai uma singela lista de grandes expectativas para o Festival deste ano, que está com uma programação rica e vasta. Espero que gostem.
Regra 34, de Júlia Murat
Vencedor do Festival de Locarno 2022, Regra 34 é um dos filmes mais audaciosos do cinema nacional recente. Júlia Murat testa os limites do público em um filme sobre racismo e BDSM. A atriz Sol Miranda brilha como o astro rei em seu nome.
Holy Spider, de Ali Abbasi
Depois de conquistar o prêmio "Un Certain Regard" em Cannes com o bizarro e excelente "Border", Ali Abbasi está de volta. Dessa vez, em uma história perturbadora sobre um assassino de prostitutas que acredita estar limpando a sua cidade dos pecados. Pesado.
A Menina Silenciosa, de Colm Bairéad
Um dos filmes mais cativantes de 2022, essa produção irlandesa vai derreter seu coração. No filme, uma menina passa as férias de verão na casa dos tios, que descobrem a vida difícil que a menina leva na casa dos pais. Prepara o olho, porque vai lacrimejar.
Os Piores, de Lise Akoka e Romane Gueret
Vencedor deste ano do prêmio "Un Certain Regard" em Cannes - premiação que destaca talentos emergentes do cinema que buscam novas formas de expressão cinematográfica. Um filme sobre cinema, e sobre o processo transformador da criação artística.
Paloma, de Marcelo Gomes
Novo filme do grande cineasta nacional Marcelo Gomes, diretor de obras inestimáveis como "Joaquim" e "Cinema, Aspirinas e Urubus". Paloma, a protagonista, é uma mulher transgênero que sonha em se casar na igreja, mesmo com o padre local recusando a celebração. Pra cima deles, Paloma!
Mato Seco em Chamas, de Adirley Queirós
Adirley Queirós é um cineasta fora do comum. Depois dos marcantes "Branco Sai, Preto Fica" e "Era uma Vez em Brasília" (ensaio sobre este filme no site), Adirley lança esse documentário sobre uma operação da polícia militar contra o tráfico de drogas em Ceilândia. Brabo.
Five Devils, de Léa Mysus
A diretora Léa Mysus ganhou os holofotes em Cannes com seu primeiro longa, Ava, em 2017. O filme recebeu o prêmio SACD na Semana da Crítica 2017, uma das principais mostras paralelas do festival, que premia jovens cineastas promissores. Five Devils é seu segundo longa, e a expectativa está alta.
Autobiography, de Makbul Mubarak
A Indonésia teve uma das ditaduras militares mais sangrentas do século XX. Em Autobiography temos acesso as reminiscências desse período, cujos ferimentos permanecem abertos, levando a um ciclo violento de auto-reprodução.
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