Um filme que é mais roteiro do que cinema. Na transposição do escrito para a tela, perde-se de vista o cinematográfico, e por isso o filme me soou apressado. Pois fala-se muito, e mostra-se pouco.
A personagem da Julianne Moore diz o tempo todo que tem uma relação difícil com a morte. Mas não entendemos sua relação com a morte a partir de seus atos e movimentos internos, mas através de seus diálogos. Não sabemos e não conseguimos entender, de fato, o que ela quer dizer com "dificuldade em lidar com a morte". O filme pouco se empenha para tornar essa sentença, tão pronunciada, em algo mais palpável, e fica apenas na sugestão do clichê, afinal, quem sabe lidar bem com a morte? Não entendi nem senti a especificidade da relação entre a personagem e a morte. Assim me distanciei do dilema da protagonista. O que era para eu sentir quando ela expunha sua dificuldade em lidar com a morte? O que era para eu sentir quando ela se torna cúmplice de sua amiga na eutanásia? Fiquei balançando entre a empatia e a apatia. Eu percebia a delicadeza da situação, mas não a sentia. Percebia a profundidade das questões lançadas, mas experimentei o filme no raso, na superfície, em águas mornas.
O mesmo se passa com o personagem do palestrante, que parece estar no filme apenas para palestrar. E daí o tom, a meu ver, exageradamente expositivo do filme, que busca impor sentimentos e resolver situações recorrendo insistentemente ao meio verbal em detrimento da criação mais minuciosa e paciente da imagem, dos personagens e das circunstâncias.
Ainda assim, há momentos de beleza e certa força, advindos principalmente do poder da interação entre as duas grandes atrizes. A eutanásia é abordada de forma digna e austera, por um Tilda Swinton igualmente dignificante. Almodóvar também consegue imprimir um suspense na relação entre as amigas por toda a duração do filme, e brinca com este suspense jogando com as expectativas do público. Nesses pontos ele é bem sucedido.
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