Quando falamos em Estranha Onda Grega estamos nos referindo a um grupo de cineastas e filmes que surgem com a crise econômica e política na Grécia em 2008. Seus filmes contestam os sistemas de poder hegemônicos do país.
A crise econômica grega leva o país à falência e causa uma das mais dramáticas quedas nos padrões de vida já vistos na Europa Ocidental desde a Segunda Guerra Mundial, assim como um enorme aumento nos impostos e no desemprego. A sociedade grega responde: rebeliões, greves e manifestações tomam conta do país.
O colapso da estrutura econômica e política grega trouxe uma deterioração da qualidade material de vida, e uma desestabilização e desmistificação das narrativas nacionais que por muito tempo foram centrais para a produção da identidade e da história nacional, expondo-as como regimes ideológicos responsáveis pela presente catástrofe.
Segundo o pensador grego Marios Psaras, a narrativa mais característica da nação é aquela ao redor do tríptico “Pátria, Religião e Família”. Essa tríade formatou a modernidade grega, produzindo as instituições da família e da religião como pedras angulares da sociedade grega moderna.
É por isso que as relações de parentesco (patriarcado, família nuclear), os sistemas de gênero e sexualidade (heteronormatividade), e os tipos de violência que derivam destas relações e sistemas são centrais aos filmes da Estranha Onda Grega - porque são o núcleo constituinte dos sistemas de poder hegemômicos. Três filmes essenciais articulam patriarcado, sexualidade e gênero com a crise grega. São eles:
Dente Canino, de Yorgos Lanthimos: Uma crítica radical ao patriarcado e ao autoritarismo, explorando a realidade como produto de manipulações ideológicas. Através de enquadramentos inusitados e de uma encenação que causa estranhamento, Yorgos impõe seu estilo subvertendo a convenção e as narrativas centrais que constituem a sociedade grega.
Attenberg, de Athina Tsangari: Uma história de amadurecimento sobre uma jovem que percebe a inadequação entre seus desejos e as normais sociais. Athina Tsangari é diretora de cinema e também produtora. Foi ela quem produziu Dente Canino, sendo portanto figura chave para a irrupção da Estranha Onda Grega.
Strella, de Panos Koutras: O filme Strella se tornou uma plataforma para identidade e política queer na Grécia. Gerou debates sobre relações alternativas de parentescos, cidadania sexual e os mecanismos opressivos da família grega. Um dos filmes mais polêmicos e queridos da Estranha Onda Grega, aborda a transgressão de tabus sociais sem medo de ser feliz.
Yorgos Lanthimos é o cineasta de maior destaque advindo da Estranha Onda Grega, e seu cinema será o tema da próxima edição do CineCuti, o curso de cinema do Filmes Cuti. Se você tem interesse em se aprofundar na temática da Estranha Onda Grega e no cinema de seu principal realizador, inscreva-se clicando aqui.
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