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Tendências para o Cinema Independente em 2023

Foto do escritor: João Marcos AlbuquerqueJoão Marcos Albuquerque

Tracei um panorama das tendências para o cinema independente este ano a partir de uma análise dos filmes que assisti durante a cobertura do Festival de Rotterdam 2023. O Festival de Rotterdam é um dos maiores festivais de cinema do mundo, e também um dos primeiros do ano, junto com Sundance. O foco do festival é desenvolver e destacar o cinema independente, ou seja, o cinema realizado fora do circuito dos grandes estúdios. Durante o festival, meu foco na cobertura foram os filmes que estavam competindo pelo Tigre, a principal premiação do evento.


Sei que traçar um panorama das tendências do cinema independente para 2023 é um empreendimento ambicioso demais. Talvez, o melhor título para este post fosse “Características em comum dos filmes que competiram pelo Tigre em Rotterdam 2023”. Seria um título mais preciso, mais objetivo, sem riscos. Mas, eu quero realizar um exercício arriscado de extrapolação hipotética com vocês. Quero brincar com a possibilidade de que seja possível, sim, traçar um esboço mínimo de tendências para 2023.


Algumas tendências, como as três primeiras, já são uma realidade desde 2022, por questões de força maior (pandemia). As demais, só o tempo irá nos dizer.


Vamos às tendências:


Pandemia

Muitos filmes (que serão) lançados em 2023 foram gravados durante os períodos de isolamento social. Logo, além de abordarem assuntos ligados diretamente à pandemia, também foram realizados de acordo com medidas de segurança, conforme veremos a seguir.


Isolamento em Grupo

Uma das características dos filmes gravados durante o período de isolamento é o número reduzido de atores, atrizes e membros da equipe. Isso porque todos ficaram confinados juntos, em um mesmo local, enquanto aconteciam as gravações. Assim, toda equipe se manteve protegida do contato com pessoas de fora.


Chamber Movies Chamber Movies são filmes que se passam em uma única localidade (num apartamento, por exemplo). Eles marcaram presença no Festival de Rotterdam 2023. Dos 16 filmes que competiam pelo Tigre, 3 eram "Chamber". Seja porque são filmes sobre a vida em isolamento durante a pandemia, ou porque foram filmados durante o período de isolamento.


Depressão Um elemento narrativo que se destacou em Rotterdam foi a depressão. Alguns filmes apresentaram protagonistas em depressão, e a trama se desdobrava tendo em vista a relação destes personagens com a doença. Importante lembrar que o número de casos de depressão cresceu vertiginosamente durante a pandemia.


Nostalgia Se a depressão se apresentava de forma explícita nas histórias, a nostalgia se manifestava no aspecto formal. O uso, por parte dos filmes, de imagens de arquivo, imagens em preto e branco, e imagens que emulam o VHS se destacou. Dois premiados pelo festival emularam o VHS, sendo que "La Palisiada" foi, de fato, gravado com uma câmera de VHS.


África e o Cinema da Lentidão O cinema da lentidão (slow cinema) continua em alta nos festivais. O que me chamou atenção foi o fato de que todos os filmes africanos competindo pelo prêmio principal apresentaram aspectos estéticos associados ao Slow Cinema, em especial na representação do "tempo morto" em cenas do cotidiano.


Tempo Morto e Imobilidade O filme "Thiiird", por exemplo, apresenta a rotina de um mecânico de carros no Líbano. Há momentos em que "nada acontece", no sentido de uma progressão da narrativa. São estes momentos de "tempo morto" que nos possibilitam intuir a vida interior dos libaneses, que se sentem imobilizados e impotentes por conta da condição politica e social do país.


Tempo Morto e Ansiedade O mesmo se passa com o documentário tunisiano "Geology of Separation", sobre refugiados africanos à espera do visto de residência na Itália, que pode nunca ser emitido. Os refugiados vivem num estado de ansiedade perpétua, que preenche suas rotinas vazia. A longa duração dos planos explora o "tempo morto", onde nada acontece em suas rotinas. É angustiante.


Tempo Morto e Trauma Em "Le Spectre de Boko Haram", não vemos um membro do grupo fundamentalista Boko Haram, mas percebemos sua onipresença na comunidade retratada - nos diálogos casuais, nos soldados Camaroneses que patrulham a região, na brincadeira das crianças. O trauma se manifesta na rotina.

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© Filmes Cuti 2022 - Criado por João Marcos Albuquerque

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