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Foto do escritorJoão Marcos Albuquerque

The Humans (2021)

Atualizado: 6 de out. de 2022

Vazamentos, infiltrações, paredes descascadas, manchas, luzes que queimam, curto-circuitos, barulhos estrondosos e inexplicáveis, janelas embaçadas em que quase nada se vê através, umidade invisível mas explícita, bebidas que se esparramam pelo chão, viscosas, assim como a urina que desce pelo lado errado dos canos, e são muitos os canos, os encanamentos, as fiações que vão deixando de funcionar, uma por vez, assim como a dinâmica familiar, que entre os corredores apertados é espremida até saírem as verdades, os segredos, que são despejados na sala de estar assim como os pesadelos aterrorizantes do patriarca são despejados em sua mente adormecida, e que refletem o trauma de ser um sobrevivente do 11 de setembro, assim como todo seu machismo conservador religioso, que não aceita a depressão do genro, que diz que em sua família não existe esse tipo de doença, por conta da fé deles em Deus, fé essa que, ao final do filme, é utilizada para lidar com uma crise de pânico esmagadora, que demonstra a condição depressiva de sua masculinidade frágil que, assim como a mulher sem rosto de seus sonhos, o impede de enxergar o que está em sua cara: que ele está em depressão, homem em ruínas, é o membro da família que aparenta estar mais destroçado, e que para demonstrar isso, o filme faz questão de mudar de tom e adentrar no terreno do terror, quando a escuridão invade todos os cômodos, os barulhos ensurdecem os tímpanos, e tudo que, na casa, estava embaçado, vazando, quebrando, verte-se das paredes, tubulações e canos para o interior do patriarca, e percebemos que todo o apartamento é uma metáfora poderosa da condição não só da família, que está prestes a se fragmentar, mas especialmente do pai da família, que está a um ponto de desabar por completo.


E se todo parágrafo acima só tem um único ponto final, é porque tentei imprimir, em minha crítica, a montagem aglutinadora do próprio filme, que vai agregando, conjugando, adicionando, incansavelmente, até o momento em que tudo se torna cheio demais, tão cheio, mas tão cheio, que explode. Os meios que disponho, na escrita, para emular a montagem, sao as virgulas infinitas, os "assim como" e os "e"s, tendo por último recurso o ponto final, que interrompe, enfim, o fluxo que tudo agrega, te dando, assim, aquela sensação falaciosa de conclusão.


Na vida, assim como nos melhores filmes e textos, a conclusão está sempre em mutação. E só aceitando isso que conseguimos escapar das armadilhas que destroem o pai, aquele que vai somatizando na medida em que subtrai, que invisibiliza na medida em que não quer olhar, e que internaliza na medida em que busca, precipitadamente, e por medo, concluir - "nossa família não tem esse tipo de depressão".


The Humans

Direção e roteiro: Stephen Karam

EUA - 1h 48min


Avaliação:

4,5/5

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