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Foto do escritorJoão Marcos Albuquerque

A Intrusão de Gaia no Cinema

Para dar conta dos desastres ambientais que já ocorrem devido às mudanças climáticas, e que, de acordo com as previsões científicas, se tornarão ainda mais constantes no decorrer do século XXI, a pensadora Isabelle Stengers criou o conceito "Intrusão de Gaia".


Na década de 1970, James Lovelock e Lynn Margulis propuseram que a Terra estava viva. Com sua pesquisa, vislumbraram um sistema que refletia o equilíbrio entre os seres vivos e o resto do planeta. Esse equilíbrio é o que mantinha as condições para o desenvolvimento da vida. Essa é a "Hipótese de Gaia".


Isabelle Stengers se utiliza do conceito desenvolvido por Lovelock, mas o modifica. Em Stengers, Gaia não é este sistema estável que se assemelha a "uma boa mãe, provedora", como em Lovelock. Gaia é "cega aos danos que provoca". É indiferente aos humanos.


"Ofendida, Gaia é indiferente a pergunta "quem é o responsável" e não age como justiceira". "Ofendida, mas não vingativa". Lembro-me do filme "Mãe", de Darren Aronofsky, que em sua alegoria do colapso ambiental faz de "Gaia" (a protagonista) uma figura vingativa. Para Stengers, Gaia não tem intenção ou responsabilidade para com os humanos.

Jennifer Lawrence no filme "Mother" de Darren Aronofsky


Para Stengers, Gaia é "um ser implacável, surdo a nossas justificativas". Entre as muitas justificativas para chegarmos onde chegamos, existe a "ladainha de que somos numerosos demais". Essa não é a justificativa do Thanos, no filme Vingadores: Guerra Infinita?


É também a teoria de muitos especialistas. O próprio Lovelock previu que só viveremos em harmonia com Gaia quando a humanidade chegar a 500 milhões de pessoas. Para Stengers, essas teorias são o "delírio de uma abstração assassina e obscena. Gaia não pede uma erradicação dessas. Gaia não pede nada".


Thanos, aliás, replica a teoria do economista Malthus, que em 1798 postula que a população cresceria em ritmo acelerado, superando a oferta de alimentos, o que resultaria em fome emiséria. Desde Marx sabemos que o problema não é a produção dos alimentos, mas sua distribuição. Porém, nem todos economistas pensam assim.


São estes tipos de economistas que, para Stengers, irão tratar a questão climática "sob o ângulo das estratégias plausíveis, ou seja, suscetíveis de fazerem dela uma nova fonte de lucro". Quem assistiu ao filme "Não Olhe para Cima" entendeu. No filme, a ideia é minerar o asteróide antes dele colidir com a Terra.

Mineirar o asteróide para lucrar antes do fim. Imagem do filme "Não Olhe para Cima"


Isabelle Stengers é uma filósofa incontornável para se pensar as mudanças climáticas. Por isso, na 2ª edição do cineclube do Filmes Cuti, vamos assistir e debater filmes sob a ótica da Intrusão de Gaia.

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