Riley Stearns tem se posicionado, a cada filme, como um diretor original - um autor, digamos. Seus dois últimos filmes se distinguem pelo senso de humor cáustico, as bizarrices dos comportamentos inadequados, seus personagens idiossincráticos e as situações inusitadas que beiram o absurdo. Pra você gostar dos filmes dele, portanto, você precisa entrar na onda, ter um senso de humor compatível, uma predisposição para a diegese que ele cria. Impossível, tambem, não associar seus filmes à “estranha onda grega”, a diretores como Yorgos Lanthimos e Athina Tsangari, especialistas no ofício de criar realidades reflexas que causam estranhamento devido a caricaturização da própria realidade.
Riley Stearns, tanto em “Art of Self Defense” quanto em “Dual”, cria um mundo como que paralelo ao nosso, uma realidade que a tudo se assemelha, a não ser pelas situações, atitudes, pensamentos e diálogos esquisitos de seus personagens, que nos colocam no limite entre o familiar e o estranho, entre o normal e o absurdo - é nesse limiar que os personagens de Riley caminham.
Todavia, este universo cinemático limiar não é nada mais do que uma exegese repleta de superlativos, exagerada, da vida urbana capitalista contemporânea. Riley representa a falta de empatia, a alienação social, a espetacularização da violência - características da vida social nas metrópoles - da forma como toda boa ficção científica o deveria fazer: projetando no futuro os medos, anseios e tendências do presente. Em “Dual” é esse o caso. O que vemos na tela não é tão estranho assim quanto aparenta à primeira vista.
Riley retoma aqui um motivo narrativo que está virando sua marca registrada, que é a da iniciação em algum novo e estranho ritual - em algum Dojo, tanto em Dual como em seu penúltimo filme, “the art of self defense”. Esse novo ambiente - o dojo - transforma-se em um templo secular para o iniciado, que encontra ali as lentes para enxergar o mundo como ele é, e que ali se torna mais forte e preparado para sobreviver e se impor no mundo lá fora. O templo tem suas próprias regras e códigos morais, o que transforma a mentalidade dos iniciados. Mas o bizarro é que, se estes novos códigos morais são observados, a princípio, como imorais, são estes mesmos códigos que “o mundo lá fora” tenta coagir e suprimir, através da polícia e das leis, que buscam impedir a realização destes códigos, realizando-os. Como já bem disse Weber: “o estado é a entidade que busca ter o monopólio da violência”.
Em Dual, contudo, o personagem do mestre em duelos é mal construído, sendo até abandonado no ato final, o que é uma pena, pois quando estamos começando a simpatizar com ele, não o vemos mais - assim como seu dojo.
O ato final não poderia, contudo, ser diferente. A personagem que passa a confiar no próximo, é a personagem que vai se dar mal, não tem jeito. No mundo de Riley, não dá para confiar em ninguém, há sempre segundas intenções, há sempre a punição pela inocência e pela bondade. A morte é o único destino possível. Porém, a morte, que se apresenta logo como premissa, e permanece boa parte do filme como virtualidade prestes a se tornar real, só se realiza mesmo após o ato da traição. Não se morre por causas naturais, endógenas, mas por causas externas, exógenas, e isso é fundamental para concluir a narrativa. A morte é consequência das relações sociais moribundas em uma sociedade em decadência ética. Aliás, o retorno dos duelos medievais no mundo futuro é uma criação sarcástica admirável, pois deixa claro a condição moral da sociedade que vivemos e construímos para um futuro próximo: apesar dos avanços tecnológicos, duelamos como os medievais pelas nossas vidas, e assassinamos como auto-defesa. No futuro (ou agora?) estes duelos serão transmitido ao vivo, numa espécie de coliseu pós-moderno, e justificados pelo lucro das transmissões. A solução para o problema é assassinar o problema, desde que este homicídio gere lucro, audiência, caso contrário, estará infringindo a lei.
Dual
EUA - 2022 - 1h 34min
Direção e Roteiro: Riley Stearns
Avaliação:
***1/2
Esse filme foi muito bost*** achei que teria uma reviravolta na história como a personagem original fingindo sua morte e saindo do pais para viver uma nova vida e deixar a "clone" vivendo sua vida deprimente com seu ex marido e mãe.
Nunca vi um filme tão porcaria como esse. Chega a ser pior que: a caixa, do qual achava que nunca teria um filme pior. Pelo jeito eu estava enganado