Dizemos que um filme é realista quando ele pretende abordar a realidade. Isso parece meio óbvio, né? Pois bem, não é tão simples assim. Afinal, o que é a realidade?
Segundo o formalista Roman Jakobson, a história da arte moderna é a história de movimentos artísticos que clamam para si a exclusividade da representação da realidade. Ou seja: cada movimento diz ser ele próprio o único a revelar a "verdadeira" realidade.
Para os surrealistas, por exemplo, o real transcende o racional, e se relaciona com o inconsciente. É isso que as obras muito loucas do Salvador Dalí e do Buñuel desejam expressar. Apesar de parecerem irreais, para eles, essa era a arte mais fidedigna ao real, segundo a concepção de realidade trabalhada pelo surrealismo.
Outra forma de abordar o real surge após a 2ª Guerra Mundial, com o advento do Neorrealismo italiano. O movimento, para alguns fundador do cinema moderno, nasce do sentimento de descrédito para com o cinema, já que ele havia sido usado como instrumento de propaganda nazista e fascista.
O Neorrealismo é também uma resposta à grave crise econômica que assolava a Itália no pós-guerra. Sem recursos, os cineastas italianos passaram a usar atores não profissionais, gravando nas localidades, e buscando narrar, agora, a vida dos marginalizados, excluídos, oprimidos.
Imagem do filme Ladrões de Bicicleta, de Vittorio de Sica.
O desejo de mostrar a realidade segundo essa nova concepção desencadeou diversos outros movimentos mundo afora, como a Nouvelle Vague Francesa, o Cinema Novo no Brasil, entre outros.
Porém, não bastava apenas mostrar a realidade nas ruas da cidade ou do campo. Era preciso saber como o cinema representava essa realidade. Ou seja: a forma com que a realidade seria apresentada, tornada filme. O plano estético, formal, entrava em questão.
André Bazin, teórico incontornável para se pensar o realismo no cinema, defendia o uso do plano-sequência em detrimento da montagem, por exemplo. Para ele, o plano-sequência respeitava "a unidade do espaço", deixando a cena se desenvolver de acordo com o que se apresentava de imediato ao que estava sendo gravado, sem mediação, como na montagem. O plano-sequência permite à realidade se manifestar plenamente, em toda sua ambiguidade. Para Bazin, a realidade é ambígua, não tem um sentido a priori. O sentido vem depois, ao ser dado pelos humanos. A montagem (em especial a soviética, para Bazin) não respeitava a ambiguidade do real, ao inferir significados claros na edição do filme. O verdadeiro cinema realista, portanto, deveria manter a realidade aberta, manifesta em sua ausência de significado - indeterminada.
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