A Nouvelle Vague Tcheca é o movimento cinematográfico que surge na Tchecoslováquia na década de 1960. O país, de regime comunista, ligado a União Soviética, sob forte influência stalinista, alcança certa liberdade nesta década, e avança na realização de reformas políticas, econômicas e culturais - abolindo a censura, por exemplo.
É neste período que os jovens cineastas da Nouvelle Vague Tcheca, recém saídos da FAMU (escola de cinema nacional) criaram seus primeiros filmes. Em comum, o desejo de se opor ao Realismo Socialista -estética dominante nos países comunistas sobre influência da URSS e do stalinismo.
Com o desejo de retratar a "vida real" na Tchecoslováquia, em oposição ao herói idealizado do realismo socialista, cineastas do início do movimento adotaram o realismo: uso de atores e atrizes não profissionais, diálogos improvisados, a representação de uma classe trabalhadora livre dos estereótipos oficiais - tudo para deixar o filme mais próximo da realidade.
O Realismo Socialista também estava associado às formas mais convencionais de se fazer cinema. É assim que, enquanto buscavam uma aproximação com a vida real tcheca, os jovens cineastas buscavam também romper as barreiras formais, experimentando novas possibilidades de linguagem cinematográfica.
Uma das grandes representantes do movimento é a cineasta Věra Chytilová. Nos seus primeiros filmes, fica claro o desejo de registrar a vida real (em especial a vida das mulheres) e, ao mesmo tempo, inovar formalmente - como em seu filme de estreia, "Algo Diferente".
A ginasta olímipica Eva Bosáková em ação no filme "Algo Diferente"
Em "Algo Diferente", acompanhamos duas histórias paralelas: a da ginasta olímpica Eva Bosáková e a história de Vera, uma dona de casa. O filme segue um registro documental do dia a dia de treinos de Eva,e das tarefas domésticas de Vera. Com Eva, acompanhamos um documentário. Com Vera, uma ficção.
Em determinado momento, porém, o documentário ganha contornos de ficção, devido aos movimentos de câmera elaborados por Chytilová, assim como por sua montagem, que ao congelar a imagem em algumas acrobacias de Eva, dá um ar surrealista à obra. A história de Vera, em contrapartida, vai da ficção ao documental, num caminho oposto.
É assim que Chytilová transgride algumas convenções ligadas ao cinema documentário, e ao próprio cinema narrativo, enquanto empreende uma poderosa crítica social à realidade das mulheres na Tchecolslováquia, criando assim um filme pioneiro não só nas experimentações formais, mas também no tocante aos assuntos do feminismo.
A cineasta Vera Chytilová é uma das diretoras mais influentes da segunda metade do século XX
Věra Chytilová é um exemplo ilustrativo dos caminhos seguidos pela Nouvelle Vague Tcheca, que começa no realismo, e verte para o surrealismo. O filme AsPequenas Margaridas, de Chytilová, marca simbolicamente o momento dessa transição. E esse será o primeiro filme a ser pensado e debatido em nosso cineclube. Você não vai perder, né?
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