A dupla de lituanos que dirige Vesper já mostrou seu talento na criação de imagens poderosas e surreais com Vanishing Waves, um sci-fi de baixo orçamento que merece ser visto pela mesma razão que Vesper: existe uma beleza singular nas composições estéticas.
Vesper, se não empolga como uma história de amadurecimento, encanta pelo mundo criado, numa distopia apocalíptica de tons pastéis, habitado por criaturas que são o produto de estranhas simbioses entre o orgânico e o artificial, que dão cor e vida a um mundo sépia e moribundo, enquanto quebram a diferença conceitual entre o que é natural e o que é tecnológico.
No tocante a narrativa, temos uma história comum ao campo da ficção diatópica de crise ambiental, onde a humanidade se divide entre os abastados, que vivem em refúgios idílico isolados, e os miseráveis, que sobrevivem nas condições mais precárias e nocivas. Dentro deste campo macro, temos a relação entre pai e filha, entre filha e ausência materna, entre a filha e seus sonhos, entre os excluídos com aqueles que desejam ser incluídos, entre aquele que detém o poder entre os miseráveis e os miseráveis que não querem se submeter a este poder etc. Se a narrativa apresenta bons prospectos, nenhum deles é levado a cabo com profundidade, o que torna a experiência rasa e fria, mesmo no momento do clímax. As potencialidades narrativas não desabrocham, ficam no quase, ao contrário da potência estéticas, que se sobressai desde o início.
Há algo de belo nas obras da dupla da Lituânia, um belo que advém de um raro poder criativo para conceber imagens em movimento. Por vezes surreais, por vezes cronenbergianas, por vezes nos causando certo deslumbramento, ou aflição, são imagens poderosas, mas não cenas poderosas. O que falta, a meu ver, para que a dupla da Lituânia desabroche em todo seu potencial artístico, é saber transpor essa beleza das imagens para o campo da montagem, da composição de cenas e sequências que encantem tanto quanto a criação do quadro. É preciso trabalhar melhor o potencial da imagem na duração temporal e na extensão espacial da obra.
Apesar doa apesares, são, sem sombra de dúvida, um dos nomes mais interessantes quando o assunto é sci-fi.

Vesper
Direção: Kristina Buozyte e Bruno Samper
Roteiro: Kristina Buozyte, Brian Clark e Bruno Samper
França, Lituânia e Bélgica - 2022 - 1h 54min
Avaliação:
3/5
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