3 Women (1977) - Crítica
- João Marcos Albuquerque
- 15 de mar.
- 1 min de leitura
Uma obra atmosférica, psíquica, estranhamente silenciosa e silenciosamente estranha — um filme sobre dissolução de identidade e transferência simbólica de papéis (referência clara à Persona). O tipo de estranhamento que advém de uma suspensão da lógica emocional e da relação disfuncional entre personagens. A sensação de que as emoções são filtradas por algo estranho: um mundo “sem alma”, onde o comportamento é misteriosamente deslocado. Mas o estranho não vem só daí.
Percebo que neste filme há a semente de uma tendência do cinema contemporâneo chamada por Geoff King de "cinema do desconforto" (principalmente relacionado ao cinema do Yorgos Lanthimos). Filmes que causam estranhamento pela conjunção entre forma e conteúdo que geram sensações de constrangimento, angústia, desconforto e uma ironia e senso cômico que advém de situações bizarras e vexatórias (vergonha alheia) apresentadas com a naturalidade do senso comum na diegese. Não é ipsis litteris o que ocorre aqui, pois alguns personagens mantem uma distância para apontar a esquisitice de outras personagens, mas como disse antes, essa tendência está em 3 Women de forma embrionária, e isso é muito claro (e revelador!).
O cinema do Yorgos (principalmente O Sacrifício do Cervo Sagrado) cabe quase todo aqui, também no tocante aos dispositivos de estilo que ele manipula, e à criação atmosférica daí resultante: a música dissonante que aumenta o senso de esquisitice; os constantes zoom-in nos rostos dos personagens; o esvaziamento emocional dos personagens, etc.
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