Damos o nome de Experimental para certos filmes que buscam uma nova forma de expressividade visual e auditiva, desafiando as convenções narrativas, estéticas e formais do cinema. Ao longo do século XX, a arte experimental também foi chamada de “avant-garde” (vanguarda), underground, dentre outros nomes, com variações conceituais entre um termo e outro.
A Era de Ouro de Hollywood (décadas de 1910 a 1960) foi um período crucial para o desenvolvimento das convenções cinematográficas que prevalecem até hoje. O cinema dito Experimental surge como uma alternativa ao modelo dos grandes estúdios e suas convenções (narrativa linear, foco no desenvolvimento dos personagens e arco narrativo, os códigos de gênero etc.).
Se em Hollywood os filmes focavam no desenvolvimento dos personagens para a condução da narrativa, gerando empatia e identificação no público a partir da jornada do protagonista, na recém formada União Soviética o foco se deslocou da figura do indivíduo para a do povo. “Outubro (1927)”, de Eisenstein, destaca a luta do povo russo contra a opressão, por exemplo.
A estrutura narrativa que centraliza a ação na figura do coletivo (o povo russo) em detrimento da figura do indivíduo (único protagonista) é uma forma distinta do desenvolvimento narrativo convencional, e que instaurou formalmente um dos preceitos iniciais da Revolução Soviética: o social deve vir à frente do individual.
Nesta mesma época, cineastas ao redor do mundo partiam para uma outra missão: explorar a interioridade do indivíduo. A partir da experimentação com a linguagem, cineastas expressavam o estado mental de seus personagens. A seguir alguns destaques:
Limite (1931), de Mário Peixoto
Em Limite (1931), há uma cena onde, de repente, a câmera deixa de filmar a protagonista para deambular, sozinha, pela estrada. Ao perdermos a protagonista de vista, perdemos a referência (até hoje o cinema, seja ele convencional ou de arte, segue acoplado aos personagens). Dessa forma, ao deixar a câmera à deriva, Mario Peixoto traduz, visualmente, o estado de espírito da personagem: ela está perdida.
Tramas do Entardecer (1943), de Maya Deren
Maya Deren talvez seja a cineasta experimental mais famosa a explorar os estados mentais. Em “Tramas do Entardecer (1943)”, há um momento onde, a partir da encenação e dos movimentos de câmera, Deren transforma por completo a gravidade do espaço, instaurando uma outra relação entre a personagem e as leis da física. É assim que Deren expressa a angústia e a claustrofobia sentida por sua personagem.
Fireworks (1947), de Kenneth Anger
Já Kenneth Anger explorou os estados internos a partir de outros elementos. “Fireworks (1947)”, repleto de simbolismo e metáforas, mostra cenas de desejo homoerótico e violência, representando a luta interna e a perseguição enfrentada pelos homossexuais. Anger foi um dos primeiros a representar a homossexualidade de forma aberta e complexa no cinema.
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