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Foto do escritorJoão Marcos Albuquerque

O Estranhamento no Cinema

"Que filme estranho!". Quantas vezes não nos pegamos dizendo isso? Pois é importante sabermos que há uma longa tradição no mundo da arte, e do cinema, que busca exatamente causar em nós a sensação de estranhamento. A seguir, traço um pequeno panorama da ideia de estranhamento no cinema.


O Estranhamento no Formalismo:

Segundo a tradição dos formalistas russos, em especial nos escritos de Viktor Chklovski, o valor de uma obra de arte está em sua capacidade de tornar estranho - desfamiliarizar, desnaturalizar - o mundo como o conhecemos. Ao tornar o que nos é familiar em estranho, a arte nos revela a verdade oculta sob o verniz dos costumes.


O Estranhamento em Brecht: Bertold Brecht formula o conceito "efeito de estranhamento" (também chamado de distanciamento ou alienação) e aplica em suas peças. Brecht queria acabar com a ilusão de que havia uma separação entre o mundo real e o mundo do teatro. Uma das técnicas utilizadas para esta finalidade foi a quebra da 4ª parede (esta pretensa parede invisível que separa o público do palco). A quebra da 4ª parede evita a imersão, distancia o público da obra. Para Brecht, a imersão faz com que o espectador se envolva com a obra de forma passional, através dos sentimentos, e não da razão. Brecht queria um envolvimento racional por parte do público, para que construíssem um pensamento crítico a partir da peça, para assim o aplicarem no mundo.


Godard e o Estranhamento:

A quebra da 4ª parede se torna uma das marcas do cinema autoral de Godard. Assim como Brecht, Godard buscava um envolvimento racional dos espectadores com sua obra, de teor altamente político. Esse é um dos meios de Godard para conscientizar e engajar seus espectadores na ação política.


Godard criava cenas "estranhas", por irem na contramão das convenções. Em Vivre sa Vie, há uma cena onde não vemos o rosto da protagonista enquanto ela fala (imagem ao lado). A cena nos faz questionar, enquanto a assistimos, o porquê do diretor ter filmado desta forma. E era isso que Godard queria. Afinal, só fazemos tal pergunta quando já estamos distanciados o suficiente da obra.


Buñuel e o Estranhamento:

Outra estratégia de estranhamento é efetivada por Buñuel, em "O Fantasma da Liberdade". Na cena acima, burgueses se sentam à mesa para fazerem suas necessidades. Para comer, usam o banheiro. Ao inverter os costumes, Buñuel nos faz questionar o que é obsceno: comer um banquete, num mundo de extrema desigualdade, ou fazer as necessidades?


O Estranhamento no Cinema Contemporâneo:

Um dos movimentos cinematográficos contemporâneos de maior destaque no cinema mundial recorre ao estranhamento como principal estratégia estética e narrativa. Me refiro a "Estranha Onda Grega", movimento que surge na Grécia em torno da grave crise econômica e política que irrompe no país em 2008. Seus filmes buscam criticar e subverter, via desfamiliarização e distanciamento, as relações de poder que estruturam a sociedade grega.


Para quem deseja se aprofundar no assunto, recomendo participar do cineclube sobre A Estranha Onda Grega. As Inscrições ficam abertas até 17 de abril. Para saber mais e se inscrever, clique aqui!



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