O que é um Plano? Antes de mais nada, “plano” é um termo escorregadio no léxico cinematográfico. Existem distintas formas de se usar o termo. Aqui, usaremos "plano" para falar sobre um trecho do filme rodado de forma ininterrupta, portanto, um trecho que ocorre entre um corte e outro.
Mas, o que é um Plano Longo? Atualmente, no cinema convencional, a duração média de um plano é de 2,5 segundos. Ou seja: há um corte de 2,5 em 2,5 segundos. Não há consenso sobre a duração de um plano longo. Mas sabemos identificar um quando vemos. Chantal Akerman, Antonioni, Tarkovsky e Béla Tarr são alguns dos nomes famosos por seus planos longos, que ultrapassam minutos.
Há muitas razões para se fazer um Plano Longo, a depender do cineasta. Vou expor alguns exemplos. Mas vamos começar do início. André Bazin, grande pensador do cinema, era um admirador dos planos longos. Para Bazin, a razão de ser do cinema reside em sua capacidade de apresentação objetiva da realidade. Quanto mais o filme deixar a realidade se manifestar, melhor. Para Bazin, o plano longo era a melhor forma de captar a manifestação da realidade. Chantal Akerman, de certa forma, concorda com essa visão. Vejamos como isso se dá no filme Jeanne Dielman, sua obra-prima.
No filme, acompanhamos a rotina metódica de uma dona de casa chamada Jeanne. Há diversos planos longos de Jeanne realizando tarefas domésticas: lavando a louça, preparando o jantar etc. Acompanhamos cada uma de suas tarefas em seu tempo real de realização. Ao colocar no centro da tela e por um longo período de tempo o trabalho doméstico, Chantal valoriza e torna visível este trabalho, constantemente invisibilizado em nossa sociedade capitalista patriarcal. Ao analisar o filme Jeanne Dielman, a pensadora Laura Mulvey diz: "Quando um plano é mantido para além do esperado, o fluxo do tempo pertencente a ficção começa a desaparecer(...)". Laura aponta para um curioso efeito do plano longo: nos fazer, por vezes, confundir a ficção com a realidade.
Manter determinado plano por um longo período de tempo desafia as convenções cinematográficas. Logo, passa a impressão de que não estamos assistindo à uma ficção, mas a alguma produção mais preocupada com a captação da realidade, como um documentário, por exemplo. É isso que dá um aspecto hiper-realista à obra. Vejamos agora como Béla Tarr usa o plano longo.
Béla Tarr já deu entrevistas dizendo que usa o plano longo porque não gosta de editar. Uma questão prática. Béla prefere gravar planos longos para ter menos trabalho com a edição. Porém, Béla já disse, citando Godard, que "um diretor de verdade faz a edição na câmera". O que ele quis dizer com isso?
Os planos longos de Tarr são realizados através de sofisticados movimentos de câmera e mudanças no enquadramento. Ao invés de realizar cortes, como na edição convencional, Tarr realiza a "edição na câmera" ao movimentá-la pelo espaço de forma ininterrupta, sem precisar do corte como recurso. Quais efeitos disso? Se a câmera é o nosso ponto de vista, ao percorrermos o espaço que a câmera percorre, a sensação é de estarmos ali, imersos naquele espaço. A edição por cortes não se assemelha a forma como enxergamos no dia a dia, pois enxergamos de forma contínua, como no plano longo.
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