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Foto do escritorJoão Marcos Albuquerque

Substância x Estilo: Faz Sentido?

Faz sentido contrapor os termos estilo e substância, como termos antagônicos, ao elaborarmos um discurso sobre qualquer filme que seja? Não é de hoje que vejo os termos sendo utilizados por parte da crítica e da cinefilia. Este texto tem o intuito de esclarecer o significado de ambos os termos, para assim refletirmos sobre a validade da contraposição.


Se tornou prática comum, no meio de parte da crítica e dos debates sobre cinema, contrapor estilo e substância, como dois termos antagônicos que são analisados separadamente na hora de avaliar uma obra. Esta contraposição se popularizou nos países anglófanos e chegou até nós como "Style X Substance".


Primeiro, vamos clarificar o sentido empregado quando se contrapõem os termos. Quando dizem que um filme tem substância, querem dizer que ele tem Conteúdo, uma mensagem explícita com relevância social/política. Ao dizer que um filme tem estilo, querem dizer que ele tem um visual arrojado, que suas imagens são ousadas, impactantes, fora do comum. Porém, há uma relação hierárquica camuflada nessa contraposição. Quantas vezes não ouvimos, lemos, ou até mesmo reproduzimos, que tal filme tem estilo, mas não tem substância? Quando isso é enunciado, a mensagem é clara: o filme pode até ser "interessante" visualmente, mas não presta. Faz sentido dizer isso?


Não existe filme sem estilo. O estilo é a forma com que o cineasta manipula a linguagem cinematográfica. Para Bordwell, o sistema formal do filme é seu estilo, e o sistema formal é o conjunto das técnicas empregadas em um filme. Entre as técnicas, temos: a encenação, a iluminação, o enquadramento, o foco, elementos relacionados à edição e ao som etc. A questão é que se tornou comum, e portanto natural, um certo modo de se fazer cinema. Tão comum que deixamos de percebê-lo como estilo: tornou-se regra, norma. Me refiro ao estilo convencional, institucionalizado por Hollywood. Isso implica seguir a um padrão de estrutura narrativa, de edição, de atuação, de encenação, de decupagem etc. Por exemplo: os diálogos devem ser realizados em plano e contraplano; a edição tem de ser dinâmica, cada plano durando não mais de 3 segundos; e por aí em diante. As possibilidades estilísticas são reduzidas a uma fórmula, um padrão, que é replicado pela maioria dos filmes convencionais, por séries e novelas. Mas existem outras formas de se fazer cinema.


Quando os cineastas fogem do padrão, o estilo salta à vista, torna-se visível. Portanto, o primeiro ponto aqui é: todo filme tem seu estilo, mas em alguns casos ele é transparente (invisível pois se camufla na convenção) e nos outros é opaco (visível ao quebrar a convenção). Se todo filme tem um estilo, pois este se dá na articulação das técnicas cinematográficas por parte do cineasta, não existe substância fora do estilo - se é que existe essa tal de "substância". Contrapor ambos os termos me parece um atalho falacioso, que superficializa a análise e a crítica cinematográfica.


Esse é o tipo de assunto que abordamos com mais profundidade no cineclube do Filmes Cuti, onde temos mais tempo e espaço para destrinchar os conceitos. O cineclube trabalha teoria, linguagem e história do cinema em conjugação com filosofia, antropologia e outros saberes. Todo mês temos uma nova edição do cineclube, com um novo tema. Participe! Para saber mais, acesse a página do cineclube clicando aqui.




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